Um fenômeno pós-moderno. Pode ser que outros
jargões como tsunami de informações, avalanche
jornalística ou fenômeno midiático definam a entrevista do grupo Mídia Ninja
aos jornalistas do programa Roda Viva.
Seria uma imensa demagogia não analisar os assuntos
levantados pela imprensa em decorrência desta entrevista histórica, tão
comentada nas redes sociais e nos bastidores da imprensa brasileira.
Porém, não existe lógica nas palavras do Senhor
Capilé. Desburocratização, descapitalização, pulverização de pagamentos e
indivíduo que sobrevive do limite bancário, soa estranho aos ouvidos dos
telespectadores quando logo em seguida ouve-se o tilintar dos cifrões na casa
dos 3 milhões de Reais que foram gerados no ano passado, simplesmente com ações
culturais e de entretenimento.
Os entrevistadores do Roda Viva esforçaram-se em
entender uma “rede” muito simples de arrecadação de fundos estatais para serem
usados contra o próprio Estado. Se o Capilé e o Torturro são militantes das
próprias convicções não muito claras, que podem apoiar o Movimento do Passe
Livre e ao mesmo tempo se eximir de avaliar as ações de vandalismo dos Black
Blocs, onde está a coerência em arrecadar dinheiro público através da(s)
casa(s) Fora do Eixo e repassar esta verba ao Mídia Ninja? Posso estar
enganado, mas isto me lembra muito o repasse e desvio de verbas destinadas à
cultura. No que difere a parceria Casa Fora do Eixo – Mídia Ninja dos desvios
das verbas destinadas à saúde, educação e segurança, tão comuns em nosso
querido país? Isso sem falar na acusação que a Casa está sofrendo nas mídias
sociais, mídia escolhida para a divulgação das ações.
Há alguns dias, o coletivo comandado por Pablo
Capilé, que financia os Ninjas, foi acusado pela cineasta Beatriz Seigner de
uma série de malfeitos num post longo e indignado no Facebook. Beatriz afirma
ter trabalhado com o grupo por um ano. Fala em “trabalho escravo”.
Alguns
pontos de seu depoimento entre aspas:
“Recebi
um contrato do SESC e vi que o Fora do Eixo estava recebendo por aquela sessão
[de exibição de seu filme, com espaço para debates] em meu nome e não haviam me
consultado sobre aquilo. Assinei o contrato minutos antes da exibição e cobrei
do Fora do Eixo aquele valor, descrito ali como sendo meu cachê, coisa que eles
me repassaram mais de nove meses depois porque os cobrei publicamente”.
“Me
levaram para jantar na casa da diretora de marketing da Vale do Rio Doce, no
Rio de Janeiro, onde falavam dos números fabulosos (e sempre superfaturados) da
quantidade de pessoas que estavam comparecendo às sessões dos filmes, aos festivais
de música, e do poder do Fora do Eixo em articular todas aquelas pessoas em
todas estas cidades. Falavam do público que compareciam a estas exibições e
espetáculos como sendo filiados a eles. Ou como se eles tivessem qualquer poder
sobre este público”.
“Ele
[Pablo Capilé] era contra pagar cachês aos artistas, pois se pagasse
valorizaria a atividade dos mesmos e incentivaria a pessoa ‘lá na ponta’ da
rede, como eles dizem, a serem artistas e não ‘DUTO’ como ele precisava. Eu
perguntei o que ele queria dizer com “duto”, ele falou sem a menor cerimônia:
“duto, os canos por onde passam o esgoto”.
“Quem
mora nas casas Fora do Eixo, abdica de salários por meses e anos, e, portanto
não tem um centavo ou fundo de garantia para sair da rede. Também não adquirem
portfólio de produção, uma vez que não assinaram nada do que fizeram lá dentro
– nem fotos, nem cartazes, nem sites, nem textos, nem vídeos. E, portanto,
acabam se submetendo àquela situação de escravidão (pós) moderna, simplesmente,
pois não veem como sobreviver da produção e circulação artística, fora da rede.
Muitas destas pessoas são incentivadas pelo próprio Pablo Capilé a abandonar
suas faculdades para se dedicarem integralmente ao Fora do Eixo. Quanto menos
autonomia intelectual e financeira estas pessoas tiverem, melhor para ele.”
Constam ainda outros relatos de participantes que
tiveram algum prejuízo com as Casas. Na internet é fácil encontrar sites
dedicados a esclarecer as atividades, mas sempre de forma informativa e
investigativa. Dois exemplos de site são: Dossiê fora do eixo e uma página no
Tumblr, Fora do Beiço, por sinal, muito cômico, apesar do mau gosto.
De todo modo, fica no ar ainda a impressão de que o
Mídia Ninja é um movimento apartidário, mas que “talvez” não sobreviveria sem
verba pública. Ou então, estaríamos diante de uma nova forma de “pirâmide”?
Onde seus seguidores entrariam com o talento e seus dons profissionais e
artísticos pra que uma minoria conseguisse atingir seus objetivos econômicos?
Não há como não reconhecer o intuito dos Ninjas em
confrontar a nova e a antiga geração de jornalistas, mas há de se ter cuidado
com denúncias que podem manchar seriamente este movimento,a ponto de gerar
desconfiança e até conflitos entre seus simpatizantes e seguidores.
Augusto Ribeiro